Elevador da Glória: terá a tragédia ferido a marca-cidade de Lisboa?

O descarrilamento do Elevador da Glória não foi apenas um acidente técnico. Foi um choque humano e simbólico para Lisboa, para Portugal e para os milhares de turistas que veem naquela carruagem amarela e branca a essência da cidade. Mais do que um meio de transporte, o Elevador da Glória é uma imagem de marca de Lisboa — talvez até mais icónica que a própria Torre de Belém.

De repente, essa imagem idílica foi substituída pelo caos: ferro retorcido, vítimas de várias nacionalidades, notícias a circular em todos os continentes. Famílias viram-se inesperadamente atingidas por uma tragédia em plena viagem que deveria ser de descoberta e encanto. Lisboa tornou-se cenário de dor, quando deveria ser palco de memórias felizes.

Foi, sem dúvida, um dos maiores impactos mediáticos de Lisboa na última década e infelizmente pelos piores motivos. O acidente expôs não apenas fragilidades na manutenção, mas também um problema mais profundo: ruas sujas, muros pintados com “tags”, e a sensação de uma cidade que deixa os seus símbolos ao abandono. A marca Lisboa, tão trabalhada ao longo dos anos, sofreu um duro golpe.

E aqui entra o papel do marketing territorial: mais do que slogans ou campanhas promocionais, trata-se de uma estratégia de reconstrução de confiança. Lisboa precisa de comunicar segurança, cuidado e humanidade. O respeito pelas vítimas deve ser o primeiro passo – com homenagens, gestos de solidariedade e medidas de apoio – seguido pela recuperação da confiança de quem visita.

Não basta reparar o elevador, é essencial reposicionar o ícone.

Uma resposta visionária poderia passar pela instalação de uma nova carruagem, equipada com a mais alta tecnologia, eficiência energética e design capaz de homenagear a tradição, mas projetando a cidade para o futuro. Ao mesmo tempo, é crucial recuperar os espaços envolventes, limpar, preservar e dar ao visitante a sensação de que Lisboa respeita o seu património e cuida da sua imagem.

O Elevador da Glória descarrilou, mas a marca Lisboa não precisa de sair dos trilhos. O acidente é uma ferida aberta, marcada por vítimas inocentes, mas também pode ser o ponto de viragem para repensar como queremos que o mundo nos veja. Entre a tragédia e a esperança, está a oportunidade de mostrar que Lisboa sabe cuidar das pessoas e dos seus símbolos, projetando-se, com dignidade, para o futuro.

Partilhar citymarketing.pt
Sérgio Marques, especialista em Design Gráfico, Branding e Marketing Territorial

Sérgio Marques

Sérgio Marques possui mestrado em Gestão do Território e Urbanismo pela Universidade de Lisboa (IGOT), com uma dissertação na área de Marketing Territorial. Ao longo da sua carreira, adquiriu uma vasta experiência no desenvolvimento de projetos nas áreas de consultoria de marketing e design gráfico, tanto no setor privado como na administração pública. Trabalhou com o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto), o IGAC (Inspeção Geral das Atividades Culturais) e desenvolveu o emblema e identidade visual do CD Santa Clara dos Açores, além de ter colaborado com o Centro Nacional de Cultura. A sua abordagem estratégica alia criatividade e funcionalidade, refletindo-se em identidades visuais, campanhas de marketing e soluções de design que contribuem para a promoção e valorização de territórios e marcas. Além da sua experiência em marketing e design, Sérgio também é artista plástico, tendo participado em diversas exposições e bienais, e possui o curso de pintura nível III da Sociedade Nacional de Belas Artes. A sua paixão pelo design e pelas artes é uma extensão natural da sua visão, procurando sempre criar peças que unam estética e propósito.