É natural que existam tendências. O design, como qualquer linguagem, evolui e responde a um contexto cultural e tecnológico. O problema é quando essas tendências deixam de ser caminhos inspiradores para se tornarem fórmulas repetitivas. Hoje, o “design bonito” muitas vezes significa o mesmo: linhas limpas, logótipos geométricos, fontes grotescas, degradês vibrantes e animações suaves.
O paradoxo do minimalismo
O minimalismo, originalmente associado à clareza e ao foco no essencial, tornou-se uma estética dominante e, paradoxalmente, genérica. Quando todas as marcas parecem usar o mesmo tipo de letra, a mesma disposição espacial e a mesma lógica visual, a identidade perde-se. Ironia das ironias: na tentativa de se distinguir, muitas marcas acabam por parecer exactamente iguais.
Quando o design já não nos diz onde estamos
Falo por experiência: já me aconteceu ver um cartaz de uma exposição de arte e não conseguir recordar se era de Lisboa, do Porto ou de Madrid. Tudo parecia tão semelhante que o próprio propósito do design — comunicar com clareza, destacar, localizar — falhou. O design, quando falha na diferenciação, falha por completo! Perde-se o contexto, a memória e a ligação emocional.
O algoritmo também tem culpa — aquilo que mais vemos (no Behance, no Instagram, no Dribbble) acaba por influenciar o que produzimos. No entanto, cabe aos designers questionarem e desafiarem esta uniformização. A cultura visual portuguesa, por exemplo, é rica em elementos gráficos, cromáticos e tipográficos que poderiam inspirar abordagens únicas. Há um património visual — do azulejo à caligrafia urbana — que raramente entra no briefing.
A identidade não é um template
Design de comunicação deve ser um reflexo da personalidade e da essência de uma marca, território ou organização. Isso exige pesquisa, escuta e risco criativo. Copiar a fórmula da moda pode ser mais rápido, mas dificilmente deixará uma marca duradoura.
A padronização visual pode ser confortável, mas torna o mundo visual mais pobre e indistinto. Talvez esteja na altura de resgatar o inesperado, o imperfeito e o local. Porque no fim, o verdadeiro design não é o que se parece com os outros — é o que se parece consigo mesmo.